segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Ocupação da Reitoria

Texto copiado, na íntegra, do blog "De Olho Na Capital", do jornalista César Valente - colunista do jornal Diário do Litoral, carinhosamente apelidado aqui em Florianópolis de Diarinho.

Valente é ex-professor do curso de Jornalismo da UFSC e chegou a dar-me aula quando eu ainda estava na primeira fase. E escreve no único jornal de Santa Catarina que realmente tem credibilidade. Apesar do linguajar descontraído e escrachado, o Diarinho é um exemplo para o estado e sua mídia monopolizada pela RBS.

Como sempre, concordo plenamente com meu professor. Ele conseguiu sintetizar toda a realidade, não só da UFSC, mas de todas as Universidades Públicas do País. A coluan é um pouco antiga - quinta-feira passada -, por isso foi escrita antes da desocupação do prédio da Reitoria.

Boa leitura!

* * *

"UFSC EM FRANGALHOS
Assim como a crise aérea, a crise da UFSC (que é a crise da universidade pública brasileira) tem origem antiga. Ao longo dos anos, vários avisos foram dados, aos governos e aos governantes, sobre do rumo que as coisas estavam tomando.

Esperavam, os militantes de tantas greves a.L. (antes de Lula), que o PT no poder atenderia às principais reclamações e colocaria o trem de volta nos trilhos onde, a bem da verdade, nunca esteve. Mas o Lula presidente demonstrou que o PT não estava no poder. Quer dizer, parte dele estava, mas lá ficou, enquanto pode, apenas pelo gosto de estar no poder. Sem levar adiante as tais “propostas de luta”. E as universidades, tachadas de “elitistas”, ficaram a ver navios.

Na UFSC, como, acredito, na maioria das universidades públicas que tenham padrão de qualidade semelhante, a “privatização”, tão temida, sustentou e sustenta alguns dos cursos de maior sucesso. No Centro Tecnológico, a integração com empresas, a transferência de tecnologia e a utilização da universidade quase como setor de pesquisa e desenvolvimento de indústrias, deu o suporte necessário para que se criasse e se mantivesse aquele centro de excelência.

Os cursos que ficaram esperando e dependendo das verbas estatais para equipamento, pessoal, para tocar projetos e mesmo para realizar eventos, deslizaram ladeira abaixo, deixados à míngua. E os projetos foram sendo desestimulados e desmontados.

FALTA DO QUE FAZER
Diante desse quadro amplo, complexo e arquitetado por iniciativa ou omissão federal, o que adianta depredar a Reitoria? Que tipo de resultado um grupo isolado e minoritário poderá tirar de uma ocupação permitida e, dizem alguns, facilitada?

Qual será o próximo passo? Seqüestrar o Reitor? Ou o cônsul da Colômbia, à falta de um embaixador norte-americano nas proximidades?

Não seria mais importante, em vez dessa aventura juvenil estéril, que a rapaziada começasse a fazer, de fato, política estudantil? Que combatesse o peleguismo da UNE e tratasse de se organizar para ter, afinal e ao final, algum tipo de representatividade? E, pelo caminho trabalhoso da boa e velha militância política, criar um movimento que seja ouvido e que tenha o que dizer?

Ou, no maravilhoso mundo novo bolivariano as coisas só se resolvem na porrada e à base de factóides?"

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